segunda-feira, abril 10, 2006

Apresentando: Música!

Depois, de todo o alarde da imprensa, uma crítica positiva e mais fiel ao show da banda inglesa em SP. Pensando melhor, uma outra definição pra essa crítica seria: um texto de alguém que vê os caras chatos como ótimos marketeiros e que definitivamente, não são melhores que os Beatles. Orgulhosamente, o Aconteceu Virou Texto, rompe a rotina e introduz um tema inédito, pelas mãos de Rafael Lima, um ótimo escritor e promissor crítico da indústria fonográfica. A seguir, na íntegra, o show do Oasis no Credicard Hall, SP, 14/03/06:


Quando a banda Mop Top deixou o palco do Credicard Hall, praticamente enxotada pelo ansioso público, o calor era intenso e os copos de água mineral eram vendidos aos montes, pelo simplório preço de 5 reais. Mas logo aos primeiros segundos de Fuckin’ In The Bushes, a canção que anunciava a entrada da maior banda dos anos 90 ao palco, veio ela: a “chuva”.
Assim como o Oasis, a “chuva” já chegou arrasadora. Enquanto a banda fazia tremer o chão com Turn Up The Sun, a “chuva” caía com grande força sobre a platéia. O grupo emendou a canção Lyla, que protagonizou um momento especial no show: foram à loucura os fãs mais jovens, apresentados recentemente ao Oasis pelo contagiante refrão desta canção. Em compensação, a velha guarda dos fãs foi presenteada logo em seguida, com a seqüência Bring It On Down, Morning Glory e Cigarettes & Alcohol. As três canções fazem parte dos dois primeiros álbuns da banda. Não são os maiores hits. Mas são pérolas de valor inestimável para os fãs da época.
“Aqui chove como Manchester, não?”, comentou Noel Gallagher antes de cantar sua primeira canção na noite, The Importance Of Being Idle. Em seguida, o próprio continuou a apresentação com a inspiradíssima versão “semi-acústica” de uma de suas canções preferidas: The Masterplan. Fãs até tentaram acompanhar a balada com seus isqueiros. Mas a “chuva” não facilitou suas vidas.
Liam Gallagher retornou ao palco cantando sua composição Songbird e em seguida, a do guitarrista Gem Archer, A Bell Will Ring. O público acompanhou animado. Mas a animação foi total mesmo quando veio a B-side mais “A-side” do rock, Acquiesce. Durante a execução, a fumaça que subia do enlouquecido público chegou a bloquear por completo a visão do palco para aqueles que acompanhavam o concerto de posições menos privilegiadas.
Quando o baterista Zak Starkey começou a inconfundível introdução de Live Forever, o coração dos fãs se retorceu por completo. Enquanto acontecia a execução deste que é um dos maiores clássicos da história do rock, a “chuva” apertou ainda mais. Mas foi exatamente neste momento que foi mais fácil perceber: não estava chovendo. Eram as lágrimas dos fãs que caiam do céu.
Ao fim de Live Forever, a banda deu um certo descanso à platéia tocando Mucky Fingers, faixa do novo álbum que teve o guitarrista Gem Archer tocando gaita. Mas em um show do Oasis, um descanso (se é que ele existe) não dura muito. Era a vez de Wonderwall, a mais famosa música da banda no Brasil. É improvável que alguma alma presente não tenha cantado esta canção do começo ao fim. E os clássicos tinham de continuar. Logo veio Champagne Supernova, executada de forma muito mais competente pela banda do que nas turnês mais recentes. Como último momento antes do bis, a banda tocou a alucinante Rock ‘N’ Roll Star. Obviamente, aquela história da fumaça tampar a visão do palco se repetiu.
Logo após a banda deixar o palco, a platéia proporcionou um belo momento. Em um só coro, todos cantaram o sugestivo refrão da música “Don’t Go Away”. Nada mais apropriado no momento.
Durante todo o show, grupos da platéia pediram insistentemente a canção Supersonic, um dos maiores clássicos da banda. Mas, aparentemente, o pedido não seria atendido. O Oasis deixou a canção de lado durante toda a turnê atual. Além disso, é sabido que a banda não é muito de mudar setlists. Mas, tão imprevisível quanto o comportamento do tempo naquela noite, foi o de Zak Starkey. Ao retornar sozinho para o bis, o baterista se sentou e iniciou a introdução do clássico “esquecido” pela banda. Os fãs gritavam e pulavam totalmente surpresos. Aos poucos a banda retornava. Por último, veio Liam Gallagher. O frontman anunciou que o pedido da platéia seria atendido. E a platéia soube agradecer de seu jeito. Com enorme animação e intermináveis aplausos.
Em seguida, veio a música que normalmente iniciava o bis do Oasis nesta turnê: A pequena, mas eletrizante, The Meaning Of Soul. O show já se encaminhava para o encerramento. Mas estava claramente faltando algo. Faltava um dos momentos mais impressionantes que se pode ver em show de rock neste planeta: Don’t Look Back In Anger. Noel Gallagher já havia dito no início da turnê que não cantava o refrão desta música há quase 10 anos. E não foi no Brasil que ele precisou cantar. Como em todos os lugares que o Oasis se apresenta, a platéia cantou de forma ensurdecedora o refrão deste hino.
Eram poucos os fãs que ainda não tinham a voz totalmente tomada pela rouquidão quanto veio a última e derradeira canção: My Generation. Só que a animação ainda era total. O público pulou bastante no seu último momento com o Oasis. Pelo menos pelos próximos tempos. “Vocês foram brilhantes. Até a próxima”. Com esta frase e a tradicional oferenda de seu pandeiro a platéia, Liam Galagher liderou a saída da banda do palco. O show chegava ao fim. Quase que de forma sincronizada, paravam de cair do céu as lágrimas dos fãs. Nada mais normal. Afinal, as 14.000 pessoas ali presentes deixaram o Credicard Hall com corpo e alma lavados.

Cultura

Depois de um outdoor de lubrificante masculino ser retirado em SP, somente por mostrar um casal gay em um beijo eminente, este é mais um momento propício para se discutir o preconceito sobre as questões homossexuais. Para isso, o "Aconteceu Virou Texto" tem a honra e o prazer de receber Valmique Júnior, um crítico e excelente escritor , que há algum tempo, dedica parte de seus estudos à projeção da causa gay na mídia. A seguir, o texto, na íntegra, em que critica, principalmente, a última cerimônia do Oscar, aquela melhor premiação de sempre, para eleger o pior filme:


Irônico? você não acha?


Quanto tempo é necessário para que a sociedade acabe com um preconceito , uma discriminação, um tabu?
Uma década? 100 anos? Um Milênio? 7 dias?
E o que é necessário para que esse preconceito, essa discriminação, esse tabu acabe na sociedade?
Um milagre? Audiência? Um prêmio? Uma canção?
Não quero dar razão para Albert Einstein quando disse: " Triste época... é mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito"
Se tratando da causa gay (GLBT), é interessante observar certos fenômenos sociais recentes. Por exemplo, se por um lado a Espanha legaliza o "casamento" entre pessoas do mesmo sexo. Do outro, os Estados Unidos reelege um presidente que tem como uma de suas bandeiras eleitorais, a proibição do mesmo "casamento" .
Mas ao mesmo tempo em que o assunto se manifesta de forma antagônica, em outros momentos, aparece de forma "difusa".
No Brasil, por exemplo, na recente exibição da Novela América, da autora Glória Perez, no maior canal da televisão brasileira, no horário "nobre", de maior audiência, uma relação homossexual ganha destaque na trama. Tamanho é o destaque, que o beijo entre o casal masculino é aguardado ansiosamente no último capítulo. Mas a cena, mesmo gravada segundo a autora e os atores, não foi ao ar.
Situação semelhante, salvo as devidas proporções, aconteceu na última "grande noite do cinema", o favorito "O Segredo de Broukback Mountain" de Ang Lee, que retrata uma relação gay entre dois cowboys, não leva a estatueta de melhor filme.
E agora Oscar?
"A festa acabou,
a luz apagou,
está sem discurso,
a noite esfriou,
o riso não veio,
não veio a utopia"
E agora?
Analisar esses acontecimentos e prejulgá-los ou considerá-los como um retrocesso, seria no mínimo injustiça. Tanto quanto ignorar a cor vibrante do pink money no mercado financeiro ou considerar a homossexualidade como crime tendo como punição chibatadas.
É possível até considerar, que em toda a história da humanidade recente, a "relação homossexual" nunca teve tanta notoriedade e visibilidade. O fato do mundo estar na Era da Informação, pode ser uma possível justificativa. Afinal, ignorar o homossexualismo não é mais possível. Agora premiar, já é outra história.
História essa, que pode ter sido considerada por uns como um aborto. Afinal, com essas "coroações" que não existiram, a criança anti-preconceito-discriminação-tabu poderia ter "visto a luz", ou mesmo ter dado mais um importante , e por quê não, decisivo passo. E assim, hoje ela estaria junto com seus "pais e mães" dançando "Hung Up" nas ruas, com todo seu orgulho, plumas e purpurinas. Entretanto, com o resultado desses acontecimentos, só resta ao DJ trocar o disco e colocar em alto e bom som "Sorry". Para que os pais e as mães, que não viram sua criança nascer, poderem se consolar cantando "I don't wanna hear, I don't wanna know, please don't say 'forgive me', I've heard it all before And I can take care of myself"
Entretanto, parece ser incontestável o processo de mudança do mundo, mesmo que gradual, sobre esse determinado preconceito, discriminação, tabu. É o que poderia pensar os otimistas, diriam os pessimistas.
Mas afinal, quando o mundo deixaria de ver algo como Indicado ou Inadequado e realmente o reconheceria como Ganhador e o exibiria em TV aberta?
"The answer, my friend, is blowin' in the wind", já cantava o poeta. E as vezes , só mesmo a sensibilidade artística, manifestada em uma canção , por exemplo, parece perceber, registrar e até mesmo constatar as mudanças de alguma forma. Mesmo que de uma maneira sutil, como na recente regravação de uma das músicas mais conhecidas de Alanis Morissette, feita pela própria: Ironic. Ao mudar o final do verso "It's meeting the man of my dreams and then meeting his beautiful husband". E não "wife", como na versão original.
Dez anos depois, Alanis regrava seu disco de maior sucesso comercial.
Dez anos se passaram e os hipócritas de uma sociedade , tem a oportunidade de ver em uma premiação de grande visibilidade, a indicação de um filme com ícones da virilidade, em uma história homossexual. Assim como uma história homossexual na TV, com o galã do momento como personagem, consegue chegar até o último capítulo, sem ser explodida no caminho.
E o que acontecerá nos próximos 10 anos? Difícil responder. Mesmo com todos esses acontecimentos recentes e seus desdobramentos. Irônico? Don't you think?