Falando sério...
Item C: Pobreza não é burrice.
Eu tenho um grande amigo que me faz morrer de orgulho quando me lembro de sua vida estudantil. Ele é um cara simples, com um cérebro normal, situação financeira tão difícil quanto a minha e mais milhões de pessoas, mas uma força de vontade muito acima disso tudo. Estudou em escola pública, aprendeu várias coisas com os livros, com os exercícios, professores que ouviu com atenção. Na biblioteca pública, ele sempre soube que tinha livros de graça e se precisasse, teria lido alguns. Com as dúvidas, que buscou respostas, SOZINHO chegou à universidade federal, em um “curso de gênios”, Engenharia de Controle e Automação. No vestibular, enfrentou concorrentes dos colégios mais caros de Belo Horizonte. Eliminou ricos, pobres, brancos e negros à base do esforço próprio e hoje, é promessa de um futuro que não posso assegurar ser promissor, mas que por si só já garante melhoras. Enquanto muitas pessoas reclamavam uma vaga a ser DOADA pelo governo, ele estudou. É por isso que ele está na UFMG e muitos não entraram. E talvez nem entrem...Já que falamos em vestibular, na História Geral, nós estudamos um marco importante: a Revolução Industrial. Vimos que a Lei dos Cercos tornou as terras dos camponeses, outrora coletivas, em privadas, empurrando-os às cidades. Lá chegando, os camponeses encontraram uma tal de “Lei do Ócio”, que em outras palavras quer dizer: aqui, pedir é crime. Esmolar é crime. Todos devem, obrigados por lei, a trabalhar. E assim, se tornaram mão – de – obra fabril e comeram o pão que o diabo amassou. Desumano, eu sei. Mas, o que isso tem a ver com a discussão sobre “Reforma Universitária”? Aqui, irei usar a Lei do Ócio para explicar a diferença entre as naturezas do espírito de trabalho humano. Graças a leis como essas do passado, na Inglaterra, os mendigos sentem vergonha de pedir esmolas. É compreensível. O trabalho dignifica o homem. Já no Brasil, se decretarem a Lei do Ócio, como ócio é sinônimo de vagabundagem, até o presidente, dependendo da época, vai preso! É inegável que o brasileiro é um povo preguiçoso por natureza (e injustiçado historicamente, claro!). Basta observarmos a quantidade de feriados que temos. Basta compararmos o tanto que trabalhamos com o tanto que os japoneses trabalham. (Eu amo feriado, sou brasileira e preguiçosa. E sou cara de pau assumida também!)
Pois bem, depois desse trololó todo, a conclusão que se tira é: se ouvirmos a população brasileira, ninguém faz vestibular por livre e espontânea vontade. Todo mundo quer conseguir uma vaga “grátis”, sem esforço, “custo zero”.
Então, falamos de preguiça. Falamos de boa vontade e esforço para estudar. Lembramos de gente que vence sozinha, na luta, e de gente que está sempre a pedir, esperando o mais fácil, o mais cômodo, a negação do trabalho físico ou ainda, mental. Vimos que pobreza, isoladamente, não é sinônimo de burrice. (Aliás, gente burra nasce por geração espontânea, onde olhamos, há meia dúzia delas. Burro é burro e pronto. Não existe burro pobre, burro rico, burro verde...Aqui, não consideramos burro como aquele ser desprovido de conhecimentos acadêmicos, mas o “burro cotidiano” também. Aquele que pode ser um Boaventura na retórica, mas não sabe “nem a hora que está com fome”.) Há, portanto gente burra aos montes e preguiçosa às montanhas...
Mas, há pessoas que mal tem o que comer, o que vestir, onde viver, nem tem como ir à biblioteca pública e não tem tempo para estudar porque precisam trabalhar para conseguir as coisas que mal tem. A essas pessoas, falta também incentivo, esperança, força física. É a elas que o Governo quer tanto ajudar (ou queria!). Nesse contexto sim, cabe a discussão sobre a abertura de vagas para alunos, não por serem de escolas públicas, mas, por se enquadrarem no perfil “esforço humano é pouco” para o ingresso à faculdade.
Peço desculpas pela demora na atualização. (Problemas técnicos.)
Próxima postagem, item D: Ação Afirmativa Falha
1 Comments:
parabéns por estampar a realidade com sábias palavras.Um comentário dessa forma nos abre os olhos para as oportunidades e o conhecimento;Obrigada
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