quinta-feira, outubro 09, 2008

O que você faria?

Suponhamos que você tenha um blog muito lido. Uma fabricante de celulares lhe oferece um passeio de helicóptero por SP e um celular para teste. Deixa claro que você é livre para escrever o que quiser sobre o telefone e o passeio. Também diz que você é livre para não escrever coisa alguma. Ao final, ela lhe dá o telefone de presente.

Você aceita o convite? Aceita o convite, mas, recusa o telefone, temendo que seu público pense que "você se vendeu à fabricante do aparelho"? Aceita os dois e não escreve nada? Aceita os dois e tenta fazer uma crítica verdadeira, podendo perder a próxima boquinha? Aceita os dois e faz um jabá descarado no blog?

A discussão é velha no Jornalismo, mas, aconteceu na blogosfera. E novamente levantou discussões éticas. Alguns blogueiros e alguns leitores se revoltaram com a proposta.

A fabricante de celular lucrou com uma estratégia voltada para um público direcionado e uma propaganda "espontânea". Os blogueiros lucraram com um passeio e um celular. Mas, e a audiência dos blogs, lucrou em alguma coisa?

Nas mídias tradicionais, essa troca de jabá (ou não) é recorrente. Normalmente, o editor de cultura recebe entradas para o cinema ou teatro. Aceita, vai e escreve a crítica. Os repórteres de veículos vão a mega eventos de lançamentos, com direito a hotel 5 estrelas, praia paradisíaca, comida e bebida liberada, entre outros brindes sofisticados. Aceitam, se lambuzam e escrevem a crítica.

Mas, também há quem condende. Em 2005, a Warner deu ipods com músicas do novo cd da Maria Rita para jornalistas ouvirem e escreverem a crítica. Alguns ficaram ofendidíssimos e recusaram o agrado.

Agora, semelhante às discussões jornalísticas, um novo código de ética censura brindes para os médicos. Repudia qualquer regalia, que geralmente vem da indústria farmacêutica.

Eu pergunto: é condenável ou não aceitar brindes? Ainda que inconsciente, há uma influência do evento na crítica do jornalista ou na indicação de tal remédio por um médico? Ou o profissional sabe separar o jabá do compromisso social?

O que você faria se estivesse no papel do médico ou do jornalista? E se estivesse no papel do Relações Públicas ou Publicitário que criou a estratégia? E você, como leitor e paciente, deixaria de confiar em uma informação dada por um jornalista ou médico nessas circunstâncias?

18 Comments:

Blogger Valmique said...

Não vejo problemas em empresas/pessoas quererem oferecer "brindes" na possibilidade de se falar de.

Como jornalista que sou, minha posição seria de aceitar o brinde e ter a liberdade de escrever o que realmente achasse sobre o produto/pessoa.


Parafraseando o jornalista Luís Antonio Giron, da Bravo, sobre o episódio da Maria Rita: Meu trabalho como crítico sempre se pautou pela independência e jamais aceitei nenhum tipo de oferta em troca de minha liberdade de opinião.

A questão aí é o "brinde" em troca da opinião. Se isso estiver implícito ao aceitar o agrado, aí não concordo.

9:45 AM  
Blogger Flavimar Dïniz said...

Teve uma época que meu pai ganhava remédios do médico todo mês. Geralmente os representantes das indústrias farmacêuticas deixam amostras com os médicos e esses repassam para os pacientes para fazer testes. Se o paciente melhorar eles sabem que o remédio é bom e podem receitá-lo [isso não é o paciente servindo de cobaia, porque já houve testes e mais testes antes].

Eu lembro do bafafa da época do iPod da MR. O que a gravadora alegou, na época, é que o cd não ficaria pronto a tempo para envia-lo para os jornalistas, por isso mandou as músicas via iPod. Muita gente devolveu, muita gente nem pegou e outros tantos fingiram que não eram com eles.

Eu acho condenável quando, no presente, vem embutida a necessidade de falar bem de determinada coisa. Agora, se existir a possibilidade de criticar negativamente, ok. No caso da filha da Elis, por exemplo, se o povo pudesse falar que o cd era ruim [e não é, a propósito], não acho problemático. Assim como não deve ser se um médico disser que o remédio não fez o efeito que ele esperava.

9:48 AM  
Blogger Priscila Cunha said...

Valmique,

Aceitar o brinde não influenciaria sua crítica (ainda que inconsciente)? Isso ficaria claro para o seu leitor?

9:51 AM  
Blogger Priscila Cunha said...

Flavimar,

No caso dos médicos, as amostras grátis nem causam tanta polêmica porque pode-se alegar que beneficie o paciente (que muitas vezes, nem tem condições de comparar um medicamento muito caro). Acaba sendo uma ação positiva do médico.

Mas, e quando a indústria farmacêutica paga uma viagem de determinado médico para um congresso? Qdo o médico faz a prescrição, dá pra confiar que aquele medicamento é o melhor mesmo?

10:02 AM  
Blogger Unknown said...

O universo de qualquer profissão contempla essas práticas, mas é complicado saber se aquele profissional, na hora que recebeu o "agrado", desvirtuou suas convicções em troca deste, e depois de mais outro "agrado" e mais outro, gerando, assim, um hábito de, digamos, "corrupção". Mas, efetivamente, isso passa longe de corrupção propriamente dita.
A linha que divide a legalidade e moralidade é muito tênue. Saber até quando uma conduta não-ilegal será imoral é dificílimo.
Eu acho que a pessoa tem a analisar friamente a profissão que exerce, a função que exerce e ver a relação disso tudo com o "agrado" que está recebendo. Se isso faz parte da profissão, como um crítico de cinema, um jornalista que vai emitir uma opinião sobre um produto, me parece muito normal receber os ingressos, o celular, por exemplo (vender opinião, para mim, é algo diferente e não é normal, isso não). Agora, um delegado ficar recebendo presentinho de pessoas de idoneidade duvidosa, me parece claro que é imoral (e é até crime). Qto ao médico, acho IMORALZÍSSIMO o camarada prescrever medicamentos e receber "um por fora".
Enfim, tudo são opiniões pessoais... Cada um sabe o que está dentro ou fora de sua concepção de moralidade.

10:02 AM  
Blogger Ruleandson do Carmo said...

Eu acho que tudo dependo do como é feito. Lembro quando a Maria Rita deu um ipod com as músicas dela para jornalistas e todos devolveram, tem que ser bem feito e se a idéia é que o jornalista, blogueiro realmente conheça o produto para falar com conhecimento eu acho muito válido, assim como com as amostras grátis, ganho várias e me ajudam a decidir sobre produtos.

10:06 AM  
Blogger Valmique said...

Pri e demais presentes nesta mesa redonda virtual - uahahhaa

Talvez - digo aqui não só no meu caso - poderia afetar inconscientemente, uma palavra mais suave, sei lá. Mas o resultado final não. Se é bom é bom, se é ruim é ruim. Isso ficaria claro para o meu leitor. Isso eu posso garantir. E é isso o que importa: ser honesto com sua opinião e expressão.

Eu não precisaria devolver o MP3 para validar meu texto.

Mas tudo tem haver com a , como disse a Gi, concepção de moral de cada um.

10:13 AM  
Blogger Lucila Reis said...

Acho que todo mundo já ouviu aquela história que diz que se você souber o que há na cozinha de um restaurante, você corre o risco de não comer lá nunca mais. Sempre existe o lado podre.
A indústria farmaceutica não só oferece brindes, como faz promoções para os médicos que mais receitarem o seu produto e, claro, tem seus meios de verificar, junto às drogarias, quem são os vencedores.
Acho que é condenável ir contra a ética da sua profissão, mas ao mesmo tempo tenho certeza de que em algum momento todos se corrompem de acordo com seus interesses. Ou você vai dizer que não gostaria de ganhar um celular novinho ou uma tarde numa praia paradisíaca em troca de uma reportagem ou um post no seu blog? Inteligente é quem assume o jabá.
Já o criador da estratégia, está fazendo o que foi contratado para fazer.
E, por último, leitores e pacientes devem ter discernimento. Você não tem somente um jornal para ler e também não há somente um medicamento para se comprar... eu sempre peço a opção mais "em conta" na hora da receita médica.
Para mim o que não cola é idealismo, acho muito chato coisas do tipo não tomar Coca Cola ou não ir ao Mc Donalds, não assistir Globo ou ler a Veja, sem contar que também adoro um médico. Todos são sim, influenciáveis, nós é temos que saber o tanto que nos deixaremos influenciar por eles.

10:13 AM  
Blogger Unknown said...

O ser humano não é imparcial de forma alguma. Para começar somos cheios de preconceitos. Entenda por preconceito não uma coisa sempre maléfica (como dá a impressão quando se fala disso), mas a qualquer rosto desconhecido que você possa encontrar o seu cérebro fará algum tipo de associação com outros que você já conheceu. Associações boas ou ruins, por isso, pessoas que trabalham com marketing são bonitas (a chance de você atribuir algum sentimento ruim a uma pessoa bonita é extremamente menor). Gosto de brincar: "armadilhas de mercado", pessoas bonitas vendendo produtos que, sabe-se lá se são bons. Bom, aonde quero chegar é que, para se expressar alguma opinião próxima do imparcial (imparcial não existe, sempre colocaremos nossa vivência pessoal no meio, por mais que tentamos) o ideal seria não ter contato algum com qualquer "armadilha" de marketing da empresa. Com certeza eles estudam todas as técnicas para que sua opinião seja influenciada de maneira sutil, de forma que seu consciente não perceba, mas permaneça no inconsciente.
Acho que somos constantemente influenciados, e que opiniões imparciais não existem, mas qualquer tipo de contato "arranjado" com os fornecedores só tenderá a curva cada vez mais para o parcial.
Finalmente descordo da opinião da Lucila em um aspecto: a gente não tem como ser especialista em tudo. Imagina se você chegar no mecânico e não sabe "nada" disso, como descordar de uma sugestão dele? Só sendo especialista pra julgar. Por isso as empresas vão direto na fonte (no médico, nos casos de indústrias farmacêuticas). E se o médico te fala que aquilo é o melhor, o que você faz? Vai a outro médico? Mas e se ele tiver sido "comprado" pela mesma empresa?
Chega, já "falei" demais... rs.

11:00 AM  
Blogger Unknown said...

Ah esqueci de comentar sobre um detalhe. Quando passamos momentos agradáveis (imagino que um passeio de helicóptero deva ser bem agradável) iremos associar aqueles momentos ao produto. Acho que, por mais que se tente, um mínimo de resquício ficará no seu inconsciente (assim como no caso das pessoas, na hora q você lembrar do produto, fará a uma associação aos momentos que teve por conta dele).

11:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

não acho a comparação valida. O médico certamente não vai me receitar remédio pra emagrecer se eu estou gripado, ele vai se conter aos que vao dar resultado e dentre as opções algumas podem dar menos resultados que outros, mas ai já entra no merito e capacidade de cada médico.

Já no caso do jornalista eu aceitaria fácil e não condeno quem fizesse o mesmo.

2:17 PM  
Blogger Priscila Cunha said...

O médico não vai lhe receitar um remédio para emagrecer, se você estiver gripado. Mas, pode lhe passar o remédio de gripe que mais tenha efeito colateral; que seja o mais caro; que não seja tão bom qto os outros e por aí, vai. A questão é ele receitar o remédio do fabricante X, o que lhe pagou um congresso ou o que seja. É nesse sentido que se fez a comparação.

3:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

Acho que com saúde não se brinca....esses médicos que fazem isso deveriam ser no mínimo presos....

Agora quanto aos outros brindes.....
Se estão dando é porque querem que você"pegue leve"com os erros do produto.... e enalteça as qualidades.O que inconscientemente você faz.....
Mas se o não fizer, qual o problema?¿Não é um brinde?¿

3:53 AM  
Blogger Unknown said...

Também acho.
Se ele tem 2 remédios com mesmo princípio ativo, mesma eficácia, mas precreve o X (mais caro), com o qual ele ganha alguma coisa, e não o Y (que é mais barato para o paciente), isso é normal? Para mim, anti-ético AO CUBO.
E como eu, paciente, vou debater com o médico sobre o melhor remédio para mim? Quem sou eu!?!?! O médico é ele! Como não me deixar influenciar por uma opinião médica? Se eu não queria uma prescrição médica, não deveria ter procurado um médico, mas um pagé.

11:37 AM  
Blogger Unknown said...

Não concordo e não acho que profissionais deveriam aceitar brindes. Falo isto para qualquer esfera, não apenas a médica ou jornalística.

Pensem em um funcionário público (de qualquer área) aceitando brindes de pessoas que dependem deles para melhorar uma situação difícil ou facilitar algum processo. Passando algumas pessoas na sua frente, deixando de punir outras...

Pensem em um policial, em um bombeiro, um enfermeiro, vereador, etc, etc.... Acho errado, em qualquer profissão.

4:20 PM  
Anonymous Anônimo said...

Devemos então criticar a todos os jornalistas que não trabalhem em seu próprio veículo, afinal eles levam em consideração, antes de tudo, a manuntenção da felicidade dos donos e assim seu emprego e ganha pão.

Nunca veremos alguém no Estado de Minas falar mal dos melhores anunciantes, mesmo que haja algo a ser dito, e isso não é jornalismo.

No caso o médico e jornalista estão passando a prioridade que estava antes no veículo ou chefe para si mesmo.

8:31 AM  
Blogger Mandinha said...

Ai, eu aceitava de boa os "brindes", passeios e tudo mais! A minha consciência manda no que vou escrever, não é porque ganhei alguma coisa que vou ser obrigada a escrever bem. E vê lá se eu ia perder uma boquinha dessa!

11:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

Mesmo às vezes tonto de desilusão, prefiro apostar em Waly Salomão:
"De tanto ver triunfar nulidades, nutro grandes esperanças". Ou Guimarães Rosa: "Esperar é agir".
Ou Vicente Huidobro: "No soy burgués ni raza fatigada". Ou Lope de Vega: "Esforzad vuestros aires". Etc. Etc. Etc.

3:55 AM  

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