Falando sério...
“João da Silva, vulgo Jão, sempre sonhou em vestir um terno bem alinhado e entrar em uma“festa de bacanas”. Este também era o sonho de seu pai. Jão, pelo menos, conseguiu refletir sobre a situação com o mísero raciocínio que tem graças ao mísero estudo que teve e chegou à conclusão de que o governo tinha a obrigação de dar a ele um pouco de alegria de viver, já que o básico, ele não ganhou, buscou sozinho. Por que várias pessoas vão a festas com roupas finas e o Jão tem sempre de trabalhar na colheita de tomate? Então, como o Jão tinha uma voz muito chata – e o Governo queria sossego para continuar a fazer nada em paz- deram-lhe uma oportunidade única: a de entrar em uma festa de bacanas! Jão não se conteve de tanta alegria! Ficou ansioso, sonhador e até ficou caladinho. Precisou jogar pedras em quem não concordava com a sua entrada, mas finalmente, estaria numa festa, junto a todas aquelas pessoas privilegiadas. O Governo então, lhe comprou um terno caro. Também lhe comprou um perfume caro, uma cueca nova e um par de sapatos. A gravata incomodou um pouco, mas Jão estava empolgado demais para pensar na “pequena corda” em seu pescoço. Então, chegou o grande dia da festa! Jão, “fidalgamente” vestido, se dirigiu até a porta grande, luxuosa e bem ornamentada, mas foi logo barrado. O Governo puxou – o pelo braço e disse: “Jão, você não tem capacidade para entrar pela porta como os outros. Já que é magrinho, vai entrar pela tubulação do ar condicionado! Viu como foi bom lhe deixar tanto tempo sem comida?” O que importava a maneira como iria entrar? Jão se encolheu todo e se arrastou. Quando entrou, caiu da altura do fim da tubulação até o chão da recepção. Levantou-se, limpou a poeira e foi se juntar aos demais. Tentou iniciar vários diálogos, mas não deu conta de acompanhar nenhum deles. Mal sabia do que estavam falando! Então, percebeu que aquela era uma festa muito estranha. Não bastava apenas entregar um bilhete na entrada, mas lá dentro, era necessário comprar novos bilhetes para acessar novos compartimentos, onde a festa continuava. Jão percebeu que logo, ficaria sozinho no hall de entrada. Os bilhetes para as melhores partes da festa, o Governo não havia lhe dado. Poderia tentar argumentar algo e até forçar uma entrada, mas ao contrário daqueles bacanas, no dia seguinte, Jão não acordaria depois do meio dia para descansar da fadiga da festa. No dia seguinte, Jão voltaria para a colheita de tomates...”
Essa foi uma historinha boba para explicar o que é a ação afirmativa. Pois bem, nada mais é que um utilitário de um governo para tentar diminuir diferenças entre parcelas da população (geralmente, as injustiçadas em seu histórico). No texto acima, Jão é a nossa população pobre que deseja acesso às faculdades (a festa de bacanas). O Governo é o Governo (se alguém tinha dúvida, não entendeu o “burro é burro e pronto!”). Ingressar o pobre Jão na festa é a ação afirmativa que o Governo encontrou para fazer o pobre protagonista se sentir menos inferiorizado socialmente. Porém, como na realidade, esta última também foi uma ação afirmativa falha. Entendamos o porquê.
D.2 – “A gente não quer só comida.”
Na seqüência, o erro não decresce. Suponhamos que seja muito justo e muito igualitário o “vestibular segregado”. Depois que essa classe social prejudicada entra nas universidades, quem pode garantir a permanência dessa? A começar pelos gastos “extra-classes”: livros, xerox, filmes...Todo universitário sabe que o aprendizado é e precisa ser um conjunto de fatores complementares. As estruturas das faculdades estão preparadas para receber a nova demanda decorrente da abertura de vagas? As bibliotecas, por exemplo, vão ter livros suficientes para todos aqueles que não podem comprá-los? A condução até o campus será gratuita? Não obstante, ainda há o fator mais sofrido de todos: quem é que vai garantir o sustento daquele aluno enquanto ele deixa de trabalhar para ingressar-se nos estudos secundaristas? Eu sei que a resposta mais óbvia será “filantropias” e afins. Ora, pense na filantropia da PUC, por exemplo. Quantas pessoas merecem ou precisavam de um desconto nas mensalidades e não possuem? Para ceder uma bolsa integral a esses novos alunos, a universidade precisaria desprover os já beneficiários ou conseguir um meio de aumentar a filantropia. O aumento das mensalidades torna-se opção, porém inviável. Resta o aumento da isenção da taxa tributária paga por essas instituições. Ótimo, se for suficiente. Mas ainda há outra dúvida: diminuindo a quantidade de impostos pagos, de onde o governo vai retirar capital para investir nas escolas públicas, por exemplo? O governo aumentará os outros impostos para suprir a queda desses? O que será feito? Se alguém souber a resposta, por favor me envie porque não consegui nenhuma satisfatória em minha pesquisa...
Eu sei que o discurso está cheirando a preconceito. Mas para não parecer discurso de maconheiro piolho de movimentos estudantis cascatinhas, irei tentar propor uma nova ação afirmativa.
Espero que ter conseguido explicar ação afirmativa...
Próxima postagem, item último, E: sugestões para uma nova ação afirmativa.
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