Jornalismo verdade
No último domingo de manhã, meu amigo Clébinho, eu e meus primos, estávamos andando de patinete em volta da lagoa da Pampulha. De repente, meus primos ouviram um barulho estranho, algo parecido com um miado, um chiado estranho. “Deve ser mais um de seus ataques asmáticos. Não faça tanto esforço com o patinete!” – Clebinho me falou. Mas não era eu. Então, seguimos convencidos de que o barulho vinha do Espeto do Manuel, na preparação do churrasco daquela noite.
Mais tarde, resolvemos descansar embaixo de uma sombra de árvore. Foi quando lembramos de que tinha jogo no Mineirão, dia de clássico, o trânsito estaria infernal. Pra combater o stress, resolvemos pescar. Duas, três horas de pescaria e nada de peixe! Somente Clébinho pescava algo, uma coisa verde, molenga. Sempre a mesma coisa verde e molenga. Clébinho já não agüentava mais retirar a coisa molenga da vara e atirá-la novamente na água, quando a coisa verde e molenga deu um suspiro. Curiosos, nos aproximamos da coisa. Ela se mexeu novamente e Clébinho, assustado, chutou a coisa verde de volta pra água. Pegamos o patinete e saímos correndo. Quando estávamos quase longe do local, meus primos ouviram novamente, o miado. Entendemos tudo: a coisa verde engoliu um gato! Voltamos correndo para salvar o bichano. Clébinho pegou um pedaço de pau para puxar a coisa verde de volta. Tratou de afundar umas três vezes, para garantir que a coisa verde iria se afogar mesmo! Depois, deu umas três pauladas, para garantir que a coisa verde e molenga não fosse reagir. De volta à margem da lagoa, a coisa verde começou a chorar. Deus do céu, era uma criança!
Tratamos logo de zelar pela segurança daquele pequeno ser, então, chamamos a Rede Globo imediatamente. Então, um “cinegrafista amador” saiu do carro da emissora e registrou algumas imagens. A criança foi retirada das minhas mãos e encaminhada ao hospital. Não pudemos acompanhar o pequeno ser em seus tratamentos médicos. Assim, cabisbaixos, fomos embora. Não conseguimos parar de pensar nesse acontecimento tão cruel. Como uma mãe tem coragem de fazer isso? Como uma mãe gera uma criança verde?
Ao chegarmos em casa, ligamos a televisão para acompanharmos as notícias sobre o menino. Foi então que ouvimos a triste história:
“A mãe da criança teve uma gravidez muito difícil. Entre os principais problemas, estava a dificuldade de saciar seus desejos de grávida. Durante toda a gravidez, desejou ardentemente comer um pé de alface. Mas não podia ser uma alface qualquer. Tinha de ser uma alface colhida em uma plantação do lado de uma fossa, depois de uma chuva fazer escorrer toda essa água porca para a horta. Tinha de ser uma alface lotada de cisticercos. O pai da criança percorreu todos os sacolões da cidade em busca de uma alface cheia de vermes, mas em todos que entrava, nenhum vendedor dizia ter uma alface dessa proveniência. O pai, desesperado, chegou a visitar laboratórios em busca de algumas amostras de helmintos, mas não conseguiu êxito. Então, inevitavelmente, o menino nasceu com cara de alface. E pior, nasceu antes da hora.
Desapontada por não comer a alface maligna , a mãe do menino teve hipertensão e conseqüentemente, um eclampse. Então, a criança foi retirada do ventre materno às pressas, mas à salva, com somente uma icterícia no diagnóstico. O pequeno deveria ter ficado numa incubadora, mas a maternidade não tinha um número delas suficiente. Então, os médicos resolveram transferi-lo para uma estufa. Após 3 meses, lutando contra a morte, o pequeno voltou aos braços da mãe.
Porém, naquele domingo, o pai, inconformado com a atuação do seu time e bêbado como todo barrigudo de Mineirão, resolveu descontar sua raiva no menino e atirou – o na lagoa. Identificado e preso, ele disse: “vocês ainda vão achar quem jogou aquela droga na lagoa”. Foi então, que a polícia descobriu um saco de maconha boiando e o pai foi indiciado por tráfico de drogas.
A pobre criança, que enfrentou junto à mãe uma gravidez difícil, um parto de risco, uma estufa, uma icterícia, nadou 300 metros rasos para fugir do jacaré que mora na lagoa da Pampulha, ainda conseguiu forças para se agarrar a uma vara de pesca e implorar por socorro. Agora, passa bem, aguarda pela adoção e atende pelo nome de Aguapé.”
3 Comments:
Essa postagem foi em honra de Rafael Lima Damasceno, médico responsável por me tirar da incubadora e dono de parte dos créditos dessa história.
tb tive icterícia, e felizmente, td deu certo!
Adorei, criativo e engraçado. Se me falassem que era do Verissímo acreditaria
Ao contrário de você, eu não tive icterícia. E só pra deixar bem claro, também não entrei na fila para atirar qualquer objeto ou ser na lagoa da Pampulha. Deixando minhas piadinhas sem graça de lado, achei muito interessante a forma como o assunto foi tratado. A trama tão bem elaborada, deixou um ar de suspense durante todo o relato, feito da parte de quem presenciou o acontecimento. O desfecho dessa história creio eu que nunca terá fim. Ou será que vamos chegar à conclusões que mesclarão fatos reais com fictícios? Temos que tomar cuidado para não nos confundir e acharmos que a mãe da criança, foi quem a encontrou boiando na água, e os médicos foram os mandantes do ocorrido. Faço essa relação pelo fato de ver seu texto como uma crítica à "realidade", esta que se parece mais com acontecimentos fantasmagóricos. Viva a coisa verde...
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