sexta-feira, maio 27, 2005

Cotidiano

Este texto eu escrevi para uma aula de Ética. Não entendi por que diabos as pessoas gostaram tanto dele. Há textos que a gente escreve, reescreve, pinta e borda e o texto simplesmente, não acontece. Alguns, saem assim, às duas da manhã, de parto normal...Sem explicação, agrada a um grande número de pessoas. Não sei como funciona a lógica dos textos. Mas sei que este não foi criado, foi expelido. Como tudo o que é catártico...
Atendendo a pedidos, taí o texto que agora, ficou conhecido como "O texto da aula de Ética".

A Voz do Brasil Hoje

Hoje, às sete da noite, o Brasil pára. Quando alguém ouve a clássica música “O Guarani”, um sentimento de brasilidade envolve a alma dos ouvintes do rádio. Quando uma voz então, ecoa dizendo: “em Brasília, 19 horas”, todos os cidadãos sabem o que significa este momento para a nação: é hora de desligar o rádio.
Porém, se algum brasileiro distraído se esquece de sua “demonstração de brasilidade habitual” e não desliga o rádio, percebe atônito que “O Guarani”, música de abertura da Voz, recebeu novas versões remixadas pelo músico Sergio Sá. A abertura e as vinhetas têm hoje, a música de Carlos Gomes ao ritmo de forró, samba, choro, bossa-nova, capoeira, moda de viola e até techno. Mas se “O Guarani” continuou, a conhecida frase “Em Brasília, dezenove horas” teve uma drástica, horrenda, incrível e traumatizante alteração. De “Em Brasília, dezenove horas”, a ordem do desligue mudou-se radicalmente para: “Sete horas em Brasília.”
Convenhamos, há alguma coisa muito errada na Voz do Brasil. Sem a secura amedrontadora do “Em Brasília, dezenove horas” e o cheiro de Governo Federal que entranha na alma quando se ouve “O Guarani”, a história parece tomar um novo rumo na radiodifusão brasileira. De repente, o programa começa a ter ares de democracia. A radiodifusão tem até código de ética, agora! E ele não deixa dúvida: “Art. 2o - A radiodifusão defenderá a forma democrática de governo e, especialmente, a liberdade de imprensa e de expressão do pensamento.”
Aí, já é demais! Retiram a fantasmagórica “ O Guarani”, a voz que parece falar de dentro de um balde afirmando: “em Brasília, dezenove horas” e agora, defende a forma democrática de governo? Vargas está se revirando no túmulo a uma hora dessas!
Mentira, não está. Não está porque ainda há algo que o faz respirar aliviado, algo que o faz acreditar que a música “O Guarani” tradicional ainda pode voltar: o programa é obrigatório. Como ele ama essa palavra: obrigatório! Se o brasileiro quer informação, vai ter, na marra! Se quer cultura, conhecimentos, saber, vai ter, compulsório! Empurre informação “güela” abaixo, essa é a lei. Se é inconstitucional, melhor ainda! Liberdade de Comunicação e Informação jornalística? É claro que tem! Nos sábados, domingos e feriados, que são os dias em que o programa não é obrigado a ser transmitido.
“Várias rádios conseguiram liminar para não transmitir a Voz do Brasil, entre elas, Eldorado e Antena 1 de São Paulo com base na decisão da juíza Marisa Ferreira dos Santos, da 4ª Vara da Justiça Federal de SP. A instância foi confirmada em 1998 pelo juiz Pérsio Oliveira Lima e aguarda a decisão final do Supremo Tribunal Federal.” No entanto, há pessoas que insistem na obrigatoriedade do programa. E vão além, querem que haja um programa semelhante e obrigatório na televisão também! Este é o projeto da deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC). Para não se enquadrar fora do código de ética, ela arruma uma saída perfeita: os horários vão ser flexíveis! As emissoras, tanto de rádio quanto de televisão, poderão escolher os horários, que vão variar entre 19:00h e 00:00h.
Já até sei o que vão colocar na hora do meu “good times FM”: a Voz do Brasil. Como se alguém tivesse voz à meia – noite! E pior, já que vai ocupar o lugar das minhas músicas velhas nas emissoras tupiniquins, a “O Guarani” não vai estar em clima do “Good Times FM” porque a versão agora é em forró, sertanejo, funk...(Funk, não, porque é inconstitucional: Art. 15 - “Parágrafo único - as emissoras de rádio e televisão não apresentarão músicas cujas letras sejam nitidamente pornográficas”).
Ah, agora entendi tudo. Quando uma deputada insiste na obrigatoriedade, não se trata de querer de volta o autoritarismo, de limitar a liberdade. Trata – se apenas de saudade. Não de uma torturazinha militar, mas do bom e velho: “Em Brasília, dezenove horas”. E da boa música popular brasileira, que não é na voz de Caetano, Gil ou Chico Buarque, porque estes estavam com a boca bem ocupada levando soco da ditadura, mas da “ O Guarani”, símbolo musical máximo do povo brasileiro. (?)
A verdade é que A Voz do Brasil tem, de fato, se modificado. Pode ser que ela esteja ouvindo o povo, falando pelo povo, dando voz ao Brasil. Resta saber o que levará o povo a voltar a dar credibilidade ao programa e francamente, isso vai muito além de simplesmente trocar o em “Em Brasília, dezenove horas” por “Sete horas, em Brasília.” A hora, pouco importa. Para acertar o relógio, existe o “hora certa”. O importante é continuar este trabalho de transformar a Voz do Brasil, na voz dos brasileiros.

* "A Voz do Brasil" está presente no Guiness Book como o programa mais antigo do Brasil.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Poxa.. você realmente tem o dom... Quem me dera escrever assim!

2:06 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ah! Deixa de ser estrela! Aposto que você ficou um semana escrevendo isso e leu e releu umas quinhentas vezes!

E eu repito aqueles elogios todos da apresentação do trabalho.

Parabéns.

10:13 AM  
Anonymous Daiany said...

Será q vc teria a musica O GUARANI, mas com uma pessoa dizendo: ''EM BRASÍLIA, DEZENOVE HORAS''?
Tenho q fazer 1 apresentação sobre ditadura e acho q ficaria legal colocar essa musica, com esse trecho. Dxo meu email: dadashinoda@yahoo.com.br.
Abç.

7:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

necessario verificar:)

3:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

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4:27 PM  
Blogger MINTS said...

Nossa, muitos anos depois de ser postado eu vim ler...e gostei! Parabéns!

10:50 AM  

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