Cultura
Depois de um outdoor de lubrificante masculino ser retirado em SP, somente por mostrar um casal gay em um beijo eminente, este é mais um momento propício para se discutir o preconceito sobre as questões homossexuais. Para isso, o "Aconteceu Virou Texto" tem a honra e o prazer de receber Valmique Júnior, um crítico e excelente escritor , que há algum tempo, dedica parte de seus estudos à projeção da causa gay na mídia. A seguir, o texto, na íntegra, em que critica, principalmente, a última cerimônia do Oscar, aquela melhor premiação de sempre, para eleger o pior filme:
Irônico? você não acha?
Quanto tempo é necessário para que a sociedade acabe com um preconceito , uma discriminação, um tabu?
Uma década? 100 anos? Um Milênio? 7 dias?
E o que é necessário para que esse preconceito, essa discriminação, esse tabu acabe na sociedade?
Um milagre? Audiência? Um prêmio? Uma canção?
Não quero dar razão para Albert Einstein quando disse: " Triste época... é mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito"
Se tratando da causa gay (GLBT), é interessante observar certos fenômenos sociais recentes. Por exemplo, se por um lado a Espanha legaliza o "casamento" entre pessoas do mesmo sexo. Do outro, os Estados Unidos reelege um presidente que tem como uma de suas bandeiras eleitorais, a proibição do mesmo "casamento" .
Mas ao mesmo tempo em que o assunto se manifesta de forma antagônica, em outros momentos, aparece de forma "difusa".
No Brasil, por exemplo, na recente exibição da Novela América, da autora Glória Perez, no maior canal da televisão brasileira, no horário "nobre", de maior audiência, uma relação homossexual ganha destaque na trama. Tamanho é o destaque, que o beijo entre o casal masculino é aguardado ansiosamente no último capítulo. Mas a cena, mesmo gravada segundo a autora e os atores, não foi ao ar.
Situação semelhante, salvo as devidas proporções, aconteceu na última "grande noite do cinema", o favorito "O Segredo de Broukback Mountain" de Ang Lee, que retrata uma relação gay entre dois cowboys, não leva a estatueta de melhor filme.
E agora Oscar?
"A festa acabou,
a luz apagou,
está sem discurso,
a noite esfriou,
o riso não veio,
não veio a utopia"
E agora?
Analisar esses acontecimentos e prejulgá-los ou considerá-los como um retrocesso, seria no mínimo injustiça. Tanto quanto ignorar a cor vibrante do pink money no mercado financeiro ou considerar a homossexualidade como crime tendo como punição chibatadas.
É possível até considerar, que em toda a história da humanidade recente, a "relação homossexual" nunca teve tanta notoriedade e visibilidade. O fato do mundo estar na Era da Informação, pode ser uma possível justificativa. Afinal, ignorar o homossexualismo não é mais possível. Agora premiar, já é outra história.
História essa, que pode ter sido considerada por uns como um aborto. Afinal, com essas "coroações" que não existiram, a criança anti-preconceito-discriminação-tabu poderia ter "visto a luz", ou mesmo ter dado mais um importante , e por quê não, decisivo passo. E assim, hoje ela estaria junto com seus "pais e mães" dançando "Hung Up" nas ruas, com todo seu orgulho, plumas e purpurinas. Entretanto, com o resultado desses acontecimentos, só resta ao DJ trocar o disco e colocar em alto e bom som "Sorry". Para que os pais e as mães, que não viram sua criança nascer, poderem se consolar cantando "I don't wanna hear, I don't wanna know, please don't say 'forgive me', I've heard it all before And I can take care of myself"
Entretanto, parece ser incontestável o processo de mudança do mundo, mesmo que gradual, sobre esse determinado preconceito, discriminação, tabu. É o que poderia pensar os otimistas, diriam os pessimistas.
Mas afinal, quando o mundo deixaria de ver algo como Indicado ou Inadequado e realmente o reconheceria como Ganhador e o exibiria em TV aberta?
"The answer, my friend, is blowin' in the wind", já cantava o poeta. E as vezes , só mesmo a sensibilidade artística, manifestada em uma canção , por exemplo, parece perceber, registrar e até mesmo constatar as mudanças de alguma forma. Mesmo que de uma maneira sutil, como na recente regravação de uma das músicas mais conhecidas de Alanis Morissette, feita pela própria: Ironic. Ao mudar o final do verso "It's meeting the man of my dreams and then meeting his beautiful husband". E não "wife", como na versão original.
Dez anos depois, Alanis regrava seu disco de maior sucesso comercial.
Dez anos se passaram e os hipócritas de uma sociedade , tem a oportunidade de ver em uma premiação de grande visibilidade, a indicação de um filme com ícones da virilidade, em uma história homossexual. Assim como uma história homossexual na TV, com o galã do momento como personagem, consegue chegar até o último capítulo, sem ser explodida no caminho.
E o que acontecerá nos próximos 10 anos? Difícil responder. Mesmo com todos esses acontecimentos recentes e seus desdobramentos. Irônico? Don't you think?
1 Comments:
Adoro uma escrita irônica!
Aliás, como diz nossa professora de Sociologia, Silvana Seabra, a ironia é uma forma sofisticada de se fazer humor!
Esse texto é um luxo!
Bjo, Mickey!
Talvez, eu me contente com um texto seu por semana aqui no blog!
Talvez...
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