terça-feira, maio 03, 2005

Falando sério...

Item E: Sugestão de uma nova ação afirmativa
-Tentativa de tornar o ingresso às universidades pelas classes pobres, mais justo-

A maior crítica que faço à Reforma Universitária é a sua estrutura repleta de menosprezo. Trata o aluno de escola pública como incapacitado (acerca de negros, amarelos, burros fugidos, eu nem vou comentar...) e o mais importante: retira do Governo Federal a obrigação de investir no Ensino Público. O que precisa ser feito não é simplesmente reformar o ensino universitário. É ridículo pensar que o Governo deseja aumentar a renda da população para que as camadas pobres tenham condições de matricularem seus filhos em escolas particulares! A verdade é que não se ouve falar de uma reforma significativa desse Ensino Público porque esta seria uma atitude de resultados a longo prazo.
Assim, já que se deseja uma postura a médio prazo que realmente traga melhorias sem menosprezar a qualidade intelectual de nenhuma classe social, a minha sugestão é: abrir vagas em cursos preparatórios para vestibular e não nas universidades. Todo aluno que tenha passado por um vestibular sabe que o peso da prova está no ano de preparo que a antecede. Nos colégios preparatórios ou nos cursinhos, neste ano antecedente à prova, é feita uma revisão geral da matéria visando não apenas ensinar, como corrigir erros de aprendizagem adquiridos ao longo do Ensino Médio. Nos grandes colégios, um ano de preparação é suficiente para fazer qualquer aluno esforçado ser aprovado em uma prova de vestibular. Neste caso, o êxito depende exclusivamente da boa vontade e persistência do aluno. Assim, ao fazer com que classe média, pobres e ricos assistam às mesmas aulas, permite-se que todos tenham as mesmas condições de ingressarem em uma faculdade federal, através do mesmo processo seletivo.
Por que isso não é feito? Condições para isso existem. (Da mesma maneira que se trocam vagas por isenção de impostos nas universidades, poderia ser negociada a isenção dos impostos nas instituições de Ensino com grandes nomes e peso no mercado.) As respostas à pergunta são muito simples: tal atitude não resulta na mesma boa propaganda institucional para o governo, já que a parcela preguiçosa daqueles que lutam por essa forma de ingresso continuará achando um meio de se sentir injustiçada e lutará pela vaga “esforço zero”. Estudar é sacrificante demais! Eu é que não encontrei um meio de facilitar minha vida e sou mais uma idiota a achar que o trabalho mental dignifica o homem, senão, com certeza, eu também seria uma a esmolar ingresso fácil em universidade! Mas a questão não é apenas essa. A classe privilegiada também se sentirá injustiçada. Essa é a grande razão! Qual playboy e qual patricinha de colégio nobre vai querer dividir seu espaço com a ralé da escola pública? Nas faculdades particulares, onde o Governo pretende abrir vagas (faculdade federal tem isenção de imposto) todo mundo sabe, só tem ralé mesmo! Os ricos estão todos na federal, tiveram embasamento intelectual para isso. Mas, se as vagas são abertas nos colégios nobres, há um escândalo, uma epidemia de pobreza, um miserê asqueroso, uma “Piscinada de Ramos” do espaço cultural high society! Não há Jão, Creide, Uóxintão, Dáiâne, Létisgôu, Maicon Djequinçon, Priscilas Cunha em colégios de Maurícios e Patrícias! Não adianta. Reformas justas não são feitas por uma única razão: não se mexe em time que está ganhando! O governo ganha porque finge estar fazendo alguma coisa em prol da classe pobre e ganha novamente, quando não desagrada a classe rica do país. Esta é realidade.

Mas o governo federal, a grande maioria de estudantes, professores e trabalhadores da educação e o conjunto da sociedade sabem da importância da Reforma da Educação Superior. O Ministério da Educação convida todos aqueles que compartilhem expectativas emancipatórias a unirem-se na construção da nova universidade brasileira.” *

Eu não sei o que o MEC chama de “expectativas emancipatórias”, mas taí a sugestão. Empecilhos há em todas as propostas. Cabe aos governantes tornarem as ações afirmativas válidas. Se o Governo quer calar a boca da classe pobre, deve usar comida e não batom. Deve dar alimentação, emprego, saúde e educação, isso tudo sim, muda uma realidade social. Maquiar o Ensino garante publicidade, mas é ao mesmo tempo, um grande risco. Não resolve o problema da educação no país. Não zera a taxa de analfabetismo, por exemplo. Ainda haverá problemas. A solução é o investimento na educação pública desde o Ensino Fundamental. E caso haja necessidade de ações afirmativas, que se use o bom senso e sejam justos: o governo e o as classes injustiçadas, que precisam ser mais generosas e menos preconceituosas com elas mesmas.

“A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.” **

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* Ver site do MEC.

** Comida, música dos Titãs. (Pensei na versão acústica. Então, se você leu os versos na versão normal, volte e leia novamente. Se você não sabe nem que música é essa, eu não sei em que planeta você vive.)


1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sensacional mais uma vês!
Létisgô foi ótimo ! hauhauah
A disparidade de preparação entre particulares e públicos é realmente enorme. Na minha sala a maioria passou ao terminar o terceiro ano, e tem muito mais conhecimento do que eu que fiz além do terceiro, um ano e meio de cursinho. Mas quanto a aceitação social não tive nem um problema, pelo contrário, fiz grandes amigos.

8:11 AM  

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