quarta-feira, maio 07, 2008

A cobertura da imprensa

O que eu não agüento nesses casos de grande repercussão é a série de comentários mainstream que a gente é obrigado a ouvir. "A mídia é isso; a mídia é aquilo". A mídia não mata ninguém (a não ser de raiva, algumas vezes); não joga criancinha da janela, não mata casal de namorados.
Tanto se fala do excesso de exposição desse assunto, mas penso que não há como ser diferente. Um dos critérios que a imprensa usa para qualificar um assunto como notícia é a raridade, a estranheza, o choque. Tudo nesse caso abrange o critério. Não se trata de um assassinato qualquer: foi uma esganadura, seguida de fraturas, um corte e um arremesso pela janela. Pior: de uma menina de cinco anos. Pior ainda: pai e madrasta são suspeitos; avô e tia suspeitos de acorbertarem os culpados. Não dá pra dizer que isso seja comum. Portanto, é natural que a mídia noticie.
Os revoltosos precisam entender: não há como tirar leite de pedra. Os bons jornais farão boas matérias e os ruins continuarão a fazer o "trabalho mais ou menos" que rendem a eles uns trocados. A questão não é criticar a insistência da mídia (pq o assunto realmente rende). O problema é a abordagem. Passar dias remoendo as mesmas informações é desgastante. Informações novas são sempre bem vindas. Destaque para o G1 em usar infografia, essa coisa que todo jornal sabe que agrega valor à informação, mas nunca tem profissionais para produzi-los; para a Sônia "Merchan" Abraão, que conseguiu a proeza de falar do assunto por mais de 30 dias seguidos, trazendo para o programa de gosto duvidoso, vários profissionais de áreas diferentes para esgotar o caso; para o Datena, humilhando o repórter, fazendo perguntas do tipo: "vc tem certeza do que tá falando? Checou sua fonte? Não inventou? Vá lá checar isso que eu lhe chamo daqui a pouco"; e para a Veja, que estampou na capa: "FORAM ELES", em letras garrafais, com a minúscula seqüência: "diz a polícia" (pelo menos mostrou ao público que a imparcialidade é mito).
A falha "da mídia" foi dar espaço para os palhaços que foram à porta dos Nardoni, da delegacia etc. É certo que a mídia escolhe aquilo que a população vai discutir no outro dia e que assuntos de caráter mórbido (eu não sei pq cargas d´água) são sempre "coisa que o povo quer saber", portanto, coisa que a mídia tem a obrigação de noticiar. Mas eu prefiro o jornalismo com o foco na conseqüência. É polêmico, eu sei, mas como a atitude daqueles palhaços foi repudiável e o espaço na mídia passa a ser incentivo, eu não daria nenhuma imagem sequer de quem estivesse ali. Pra mim, é válido o direito do público à informação, mas uma das funções do Jornalismo é também educar, principalmente em casos que vão a júri popular.