segunda-feira, outubro 20, 2008

Às Eloás que matamos dia após dia


Hoje, eu acordei com esse pensamento: cada circunstância de nossa vida é marcada pura e simplesmente pelas escolhas. A partir do momento em que a gente nasce, viver ou morrer são as duas opções. Não vai existir meio termo. As escolhas que fazemos são as Eloás que matamos ou salvamos, dia após dia.

Os alimentos que a gente ingere; os exercícios que faz (ou deixa de fazer); as ruas por onde passa; as pessoas com quem se envolve; os políticos que elege... Tudo é uma questão de escolha. E há quem acredite ainda que a gente selecione a família onde vai nascer, o que pode nos fazer pensar que as escolhas sejam feitas muito antes do imaginado.

O problema é quando escolhem por você. O Princípio Vital (ou whatever) escolhe os genes de cada pai e o de cada mãe, os combinam e formam o DNA de um novo indivíduo. Ninguém escolhe - ao menos até agora - qual gene vai adotar para si e do qual vai se desfazer. O Estado escolhe como vai aplicar os impostos que você paga; o acaso escolhe os números da mega-sena; "Deus escolhe quem vai para o céu e para o inferno"...De alguma forma, alguém ou algo faz a escolha por você. O que quer dizer que por mais que você tente, por mais que se trate da sua vida, algumas escolhas simplesmente não vão depender de você. Mas, a reação ainda é uma escolha. Isso contando que a previsão seja uma antecedente por direito.

Por mais que não pareça, a princípio, o assunto dessa postagem é o "Caso Eloá". O namorado que escolheu; a amizade que cultivou; a decisão de terminar o namoro; as palavras ditas dentro do apartamento; a volta da amiga ao cativeiro; a autorização ou não dos pais para a volta da refém; as famílias terem armas em casa; a cobertura da imprensa; a ação da polícia...ações, reações e omissões. Algumas dependiam de Eloá; outras, não. E quem pode dizer que foi ela quem mais tenha perdido?

Como jornalista, não cabe a mim julgar nada do caso. Não tenho acesso aos laudos; não sou psicóloga; muito menos tive treinamento para enfrentar situações de risco que envolvam um perturbado, reféns e armas de fogo. Talvez, por isso mesmo, eu não entrevistasse um seqüestrador ao vivo. Além de tudo, não pertenço ao Judiciário, a quem cabe o julgo da questão.

Mas, como ser humano, posso compartilhar o alerta: observe suas escolhas. O acaso pode levar à fortuna ou à desgraça. E o simples pisar de uma borboleta aqui, pode prejudicar alguém do outro lado do mundo. Você tem certeza de que tem feito as escolhas certas? Você saberia o que fazer quando da sua escolha dependesse várias vidas?

A gente pensa a situação como se estivesse longe do cotidiano. Como se fosse exclusiva de um chefe da polícia prestes a dar uma ordem de invasão. Mas, na verdade, essa escolha nós fazemos o tempo inteiro. Não é por essa situação que passa qualquer um que deseje construir uma família? Não é por essa situação que passa alguém que doe alimentos, agasalhos ou que preste serviços sociais? Não dependem também desses a vida de muitos outros? "Um giz mata mais que arma de fogo" dizia um professor meu. E eu tenho certeza de que ele não estava se referindo àquele produto paraguaio para matar baratas.

Enfim...efeito borboleta, teoria do caos, destino, acaso, ocasiões...Escolhas. É de Eloá e principalmente disso que se trata essa postagem. Porque viver é fazer escolhas. E essa é uma das poucas certezas que eu tenho na vida.

12 Comments:

Blogger Ruleandson do Carmo said...

Ai, mto triste... e verdadeiro. Como uma coisa, uma decisão pode mudar toda a nossa vida, né? Nossa, hoje, nem dô conta de pensar nisso... Beijo

12:44 PM  
Blogger Unknown said...

Eu só queria saber porque aquele comandante imbecil que coordenou a invasão vez a ESCOLHA de utilizar "balas de borracha" em vez munição de verdade para acabar com aquele assassino quando invadiram o cativeiro.
Agora temos uma inocente morta e um assassino vivo que pagaremos para mantê-lo na prisão por no mínimo 30 anos...

12:54 PM  
Blogger Unknown said...

Corrigindo: não era cativeiro , era a casa da menina.

12:55 PM  
Anonymous Anônimo said...

Belo texto e uma visão criativa em cima da mesmice desse assunto.

1:11 PM  
Blogger Priscila Cunha said...

Alexandre, qdo umas coisas dessas me revoltam mto, eu não desejo a morte dessas pessoas. Desejo assim, uma vida beeeem looonga, que é pro camarada pensar bastante, se remoer de remorso, implorar pra morrer...e continuar vivo. Aí, vc diz: "e um cara desses pensa? Se arrepende?" O pior é que sim. Todo mortal pára pra pensar nas burradas que fez na vida. E isso costuma acontecer nos momentos de doenças, nos sonhos etc.
Acho que desejar vida nessas circunstãncias é o pior pensamento do mundo, dada a crueldade. Por isso, lembro que eu não sou exemplo moral pra ninguém.
E com esse pensamento de "a morte é pouco e por isso, não é solução", eu me perguntei: pq não botaram um sossega-leão na comida, desmaiasse os três e aí, sim, invadissem o local? Pq não usar aqueles rifles que desmaiam animais selvagens? Não deve existir algum para longas distâncias...

Ressalto que eu não sou policial treinada para tal e que portanto, isso é só uma idéia que me ocorreu e não um julgamento do que fosse a ação mais apropriada para a situação.

1:16 PM  
Blogger Unknown said...

Existia uma solução muito eficaz para esse caso: um atirador de elite. Na hora mais clara, na hora que a Eloá abaixou para pegar a comida, metia uma bala na testa do sujeito. Mas o coronel na pm se justificou: "não foi cogitada a hipótese, por se tratar de um jovem, e de ser motivo amoroso". Além do mais ele falou que não houveram erros na ação da polícia. A polícia estava tão despreparada para o caso que fez o maior absurdo de todos: deixar a amiga voltar pro apartamento. Numa hora dessas poderiam estar sendo enterradas duas meninas, e não uma. Um comentário do coronel da pm: "se eu tivesse matado o rapaz, todos estariam me criticando agora". E agora, ele não está sendo criticado? Escolhas, bem disse a Priscila. Se tem uma pessoa apontando uma arma pra cabeça de alguém, eu escolho a pessoa inocente. Se não quer morrer, não aponte a arma pra cabeça de ninguém. Não adianta vir direitos humanos falando que não é assim que se resolve, por que é. É uma escolha, ou você mata o criminoso, ou ele mata o refém. Em qualquer país do mundo não pensariam 2x antes de matar o criminoso. Isso me lembra um caso em portugal, aonde dois brasileiros fizeram reféns, e os atiradores de elite receberam ordens de que, assim que tivessem uma linha clara de tiro, sem colocar os reféns em risco, atirassem. Resultado: os dois brasileiros foram mortos, e os reféns saíram ilesos. Fico me perguntando, algumas coisas óbvias: falaram que a bomba era pra distrair a atenção do cara, mas a bomba foi lançada na porta a qual usaram pra invadir. Então a bomba serviu pra atrair a atenção né? Por que usar balas de borracha? E se eles tivessem entrado a tempo de salvar as meninas, como parariam ele usando balas de borracha (supondo que ele estava a ponto de atirar)? Por que ficar 4 dias negociando com ele? Dando tudo que ele queria. E o pior que já comentei, deixar uma refém voltar pro cativeiro.
Quanto a pergunta da Priscila, os rifles que desmaiam animais demoram a fazer efeito, ele teria mto tempo pra matar a Eloá antes de desmaiar (por mais que seja rápido o efeito, não seria menor do que 10 segundos, porque tem que entrar na corrente sanguínea).
O pior de tudo isso, é saber que casos como esse continuarão acontecendo, em um país com uma justiça tão pobre (para não falar) quanto a nossa. E corrigindo um comentário, ele ficará no máximo 30 anos na cadeia, porque mesmo que a legislação mude, existe um artigo que diz que quando as penas mudam, o réu sempre recebe a menor pena das duas. Só dependendo dele, ele pode ficar uns 10 anos (bom comportamento, etc). Como meu pai bem comentou, toda pessoa pode matar outra no Brasil e ficar 6 anos presa. Nos EUA, ou ele pegaria pérpetua ou pena de morte, tenho certeza. Mas no nosso país extremamente "humanitário", existe o artigo quinto da constituição, que diz que nenhuma pena será de caráter perpétuo ou de morte. E tenho certeza de que ele só não pegará uma pena pequena por causa da repercussão na mídia, então vão tentar fazer de exemplo. Porque se fosse mais um caso "qualquer" ele pegaria 15 anos de cadeia, cumpriria 5 e já estaria livre pra continuar na sociedade, talvez matando outros.
Ah e a pena para homícidio é ridícula:
Art. 121 - Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
§ 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio Qualificado
§ 2º - Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Imagino que vão tentar qualificá-lo no 2º parágrafo, talvez alegando motivo fútil, mas até isso pode ser contestado, mas mesmo assim, de 12 a 30 anos???
Ou pior de 6 a 20???
Sem mais comentários.

3:25 PM  
Blogger Unknown said...

Só comentando sobre o caso da lei não retroagir, está no artigo quinto da constituição (o mesmo que fala que a pena não poderá ser de morte ou pérpetuo):
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

Ou seja, depois de julgado, a pena só pode diminuir.

3:46 PM  
Blogger Priscila Cunha said...

Eu sou totalmente a favor que a pena contenha trabalhos forçados.

3:53 PM  
Blogger Unknown said...

Sou a favor de pena de morte, pérpetua e de trabalhos forçados. Hahahahaha. Ou não tem jeito, tem nego que não tem solução. Tem que matar, melhor do que deixar eternamente na cadeia consumindo recursos públicos.

4:16 PM  
Blogger George Lucas said...

Dereck, concordo plenamente com tudo que você escreveu. Pena de morte, atirador de elite... Sempre parece que não pode ficar pior do que está, mas enquanto o Brasil não ficar completamente entregue à criminalidade, o Estado continuará se omitindo.

5:59 PM  
Blogger Cabral said...

Como a Pri disse, não temos acesso aos laudos, às conversas realizadas e nem ao depoimento da amiga sobre o período em que voltou ao cativeiro.

Portanto, fica difícil apontar responsáveis neste momento, apenas erros.

Na minha opinião, houveram sim, erros sucessivos, mas de todas as partes.

Erro da polícia, que liberou a amiga para voltar ao cativeiro.

Erro da Eloá, que discutia com o ex-namorado durante o cárcere. A própria amiga confessou, no período em que esteve livre, que a Eloá estava dificultando as negociações. Que em todos os momentos ela discutia com o ex-namorado, e tb agiu com hostilidade.

E não adianta falarmos que ela tinha apenas 15 anos. Uma pessoa que começou a namorar aos 12 com um cara de 19, que deve ter iniciado sua vida sexual aos 13 ou 14, tem maturidade para pensar, em primeiro lugar, em se livrar do cativeiro, e não em discutir o relacionamento em um momento tão tenso.

Erro tb do Estado, que permitiu a extinção do departamento da polícia civil responsável por este tipo de situação e, considerado por muitos, mais preparado.

Agora, apontar a polícia com responsável pelo que aconteceu é difícil. Em primeiro lugar, pq como dito, não temos acesso a nada ainda. Em segundo lugar, pq este departamento da PM já libertou três mil reféns em sua história. Em terceiro lugar, pq o próprio responsável pelas operações táticas do caso Eloá, conseguiu render um sequestrador no dia seguinte.

5:55 AM  
Blogger LOS NINOS said...

Otimo texto! adorei, está de parabens! infelizmente é baseado em um fato tao triste :(

10:08 PM  

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