quarta-feira, maio 11, 2005

TV : A Casa dos Artistas...

Gordos para as Câmaras de Gás

Depois de insistir para que o programa “A Casa dos Artistas”, versão do SBT para o Big Brother Brasil, emplacasse, Sílvio Santos resolveu adotar outra estratégia além da “confinar artistas tupiniquins, saudosos por mais 15 minutos de fama, em uma casa” : agora é a vez de trancafiar obesos, que além de se tornarem “celebridades instantâneas”, terão a tão sonhada chance de emagrecer. O programa já caminhava para esse formato de “adesão de anônimos” em detrimento dos “artistas” na sua última edição, que misturava as celebridades e fãs, no confinamento. Porém, agora, a estratégia do dono do SBT é embutir alguma utilidade social no programa fútil. Para isso, incentiva os obesos a emagrecerem cedendo o prêmio máximo ao “gordinho”, como ele gosta de chamar seus participantes, que resistir às milhares guloseimas e conseguir perder mais peso.
Não é necessário ter um Q.I acima da média para perceber que a simples idéia de “emagrecer gordinhos” não tenha nenhum aspecto significante de “compromisso social”. Nada que se compare a ceder empregos, melhorar condições de saúde, alimentação, educação, ou até mesmo, a qualidade da TV, que anda péssima. Então, para que o enunciado faça sentido e dê o resultado esperado, muda –se a enunciação: deprecia-se a imagem do gordo a ponto de ser caridosa e muito benéfica, a tentativa de deixá-lo magro. Tem-se, portanto, a exposição dos obesos como se o programa fosse o “Circo dos Horrores” e ser gordo, fosse a pior coisa do mundo, algo bizarro de que se devesse se envergonhar, ter nojo. Os participantes, que somente por terem se submetido a tal ridículo já demonstram sinais de auto-estima zero, são ridicularizados ora por si mesmos, ora pela platéia e pelo próprio apresentador, durante a toda a exibição do programa. No último domingo, dia 08/05, Sílvio Santos surpreende uma participante ao afirmar que um diálogo dela dentro da casa teria gerado muita polêmica no universo “aqui de fora”. A participante teria dito que as mulheres gordas são mais carinhosas e eficientes na cama, visto que precisam compensar suas “falta de estética” de alguma forma. O apresentador reprisou a declaração da participante e utilizando-se da repetição - característica mais marcante do diálogo deste comunicador - insistiu, risonho, perguntando –a se a afirmação consistia em considerar as mulheres gordas as mais sexies. A participante, orgulhosa por ter achado um meio de não se sentir tão menosprezada, concordou veementemente. A reação do apresentador e da platéia não poderia ser outra: gargalhadas. Sílvio Santos então, resolve perguntar a todas as participantes se elas se consideravam mulheres sexies. A cada resposta positiva, um ar de deboche. Como pode uma gorda se achar sexy? Mais risadas na platéia. O conceito de sensualidade, a TV já definiu: é a loira, siliconada, magrinha, corpo moldado por plásticas e academias, sorridente e burrinha. Até a burrice já vem embutida no “Kit Sensualidade”. Mulheres inteligentes não participam de programas desse tipo, ainda mais semi – nuas! Então, não são sexies. Mulheres gordas, ainda que tragam os rostos mais bonitos da televisão, não se enquadram no padrão de beleza dessa pós – modernidade e portanto, também não são sexies. Considerar-se sexy fora desse padrão, obviamente, é motivo de chacota, de risos, de quase insanidade mental.
A desculpa utilizada pelo programa é melhorar a saúde do participante, ameaçado pelo excesso de peso e trabalhar sua auto – estima de modo a tornar-se mais bem aceito no convívio social. Ora, magreza nunca foi sinônimo de saúde. Tem – se gurias com 45 kg e com sérios problemas com alto índice de mau colesterol no sangue, assim como há pessoas obesas que da mesma forma, colocam sua vida cardíaca em risco. Quanto a melhorar o convívio social, não se cabe idéia mais preconceituosa. O que o programa está conseguindo fazer é criar uma onda de menosprezo às pessoas gordas, aumentar os seus complexos de inferioridade e tentar, através da propagação do absurdo em um veículo de comunicação em massa, promover a unidade estética da população, semelhante à eugenia, propagada pelo nazismo. Há um incentivo ao emagrecimento em massa, à padronização do corpo magro como sinônimo de perfeição absoluta.
O próximo reality show pós – moderno, todos já sabemos qual vai ser: “A Casa dos Bulímicos”.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ótimo também, mas discordo quando você diz que a intenção é promover a unidade estética da população, aliás seria um grande avanço do querido Silvio, caso ele realmente estivesse preocupado com o povo. Acho que na verdade, ele só queria atingir um público que cresce cada dia mais, os obesos, e com a certeza de que seu programa não afetará em nada a dieta de ninguém, pelo contrário, mostrando guloseimas todo o tempo, só fará aumentar seu público alvo( ele é um gênio!).
Não de importância não, como todos os outros programas não irá pra frente. Não vai dar dinheiro, e assim, mesmo a idéia sendo "boa", vai fracassar de novo, como de costume.
Um abração Psila!!! Desculpe os erros gramaticais! auhauahuah

7:51 AM  

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