Merda acontece. Mesmo que os amigos digam o contrário.No sábado passado, rolou o
Intercon 2008, no auditório do Shopping Frei Caneca, em São Paulo. De início, pudemos notar que estava bem mais lotado que a edição do ano passado. E foi bem no início que os problemas começaram a aparecer.
Às 8h, o dia já estava estupidamente quente. No saguão do auditório, as pessoas se aglomeravam. Enfrentavam fila para o credenciamento e outra fila para pegar uns radiozinhos por onde ouviriam todas as palestras. No rádio, a piada: o extravio implica ressarcimento de U$S 250. No meio da crise econômica, a gente descobre a valorização dos produtos "made in 25 de Março". Com R$ 570, daria para comprar um super rádio, um que não sugasse a bateria no meio da palestra e lhe fizesse ir trocar duas vezes.
Depois do atraso, justificado pela dificuldade de linkar o áudio e o vídeo, o auditório foi aberto. Finalmente, o ar condicionado! As estrelas do evento
Luli Radfahrer (vestido de lixeiro para representar o lixo na web) e
Fábio Seixas davam as boas vindas. Pediam desculpas pelos inconvenientes. E mal sabiam que o pior estava por vir.
A idéia do evento era
possibilitar o acompanhamento de duas palestras simultâneas: a principal e uma mais curta, chamada de FF. Ao mesmo tempo, também aconteciam duas oficinas: Photoshop e Programação (entenda oficina como um cara falando e a platéia assistindo). Tudo poderia ser acompanhado via rádio, com um canal para cada palestra.
Mas, quando começou, somente um canal funcionava. Nas oficinas, não havia microfones e o pessoal mais afastado do palestrante não ouvia nada. Ou seja: o jeito era ouvir a palestra principal e aguardar a organização do evento resolver o que seria feito. Paralelo a isso tudo, a internet rastejante da Dial Host. Simplesmente, não segurou o evento.
Muitos problemas aparecendo e a solução para acalmar os nervos foi um show de humor, do tipo
stand up comedy dos
Deznecessários. Um humor agressivo e cheio de palavrões gratuitos. Ou simplesmente, mal humor meu. Eu não sei, mas, não consegui achar engraçado o sujeito em cima do palco dizer pra mulher que saía do auditório: "e aí, gostosinha! Vou te comer de tal e tal jeito..." Mas, confesso que dei boas risadas nas mais leves e achei genial um "traficante gay super macho" como personagem.
Pausa para o almoço. Depois disso, o evento finalmente engrenou. As oficinas continuaram sem microfones, mas, poderia-se ouvir as palestras em alto e bom som. E foi então, que o Intercon começou a dizer a que veio.
Resumidamente (depois, nos aprofundaremos em cada assunto), as últimas palestras sobre inovações foram excelentes. E acabaram por revelar um inconveniente grave da nova proposta: enquanto de um lado, as palestras eram leves e interessantes, do outro, expunha um especialista da Oracle ao ridículo. Uma palestra extremamente descontraída competia com uma muito técnica. Resultado: 99% do auditório olhava para a direita, enquanto, na esquerda do palco, um palestrante encerrava sua palestra sem um aplauso sequer.
A idéia de ouvir duas ou mais palestras ao mesmo tempo é polêmica. Não é impossível, mas, por mais multimídia que seja o ser humano, não há como prestar atenção em tudo. Uma coisa é usar o computador, ouvir música e ver TV. Outra é tentar prestar atenção em duas palestras que lhe despertam igual interesse (e ao mesmo tempo, ouvir uma oficina).
"Quando o evento é bom, a gente nem se lembra de tudo, só se lembra de que é bom", dizia o Luli. Eu entendo o que ele quis dizer, mas, prefiro sair de uma palestra, de uma aula, de um livro, o que for, lembrando do que eu vi.
Não é para isso que a gente se dispõe a procurar conteúdo? Ainda bem que há a disponibilidade de ver os vídeos e rever as palestras. Só não cola essa idéia de alguns cults da platéia de que se você não acompanhou os três eventos, obviamente tem problema mental. A própria organização deixou claro que o interessante era a experiência do
ao vivo.
O FF se encerrou com lágrimas emocionadas do Luli, que se dizia orgulhoso em participar do primeiro evento do mundo a reunir duas palestras em um mesmo auditório.
Para encerrar o evento, a dinâmica palestra dos
Fat 5. Em poucas vezes, vi palestrantes tão empenhados em fazer algo interessante para o público. Mas, pena que não houve tempo para fazer tudo que organizaram. Era visível a decepção deles (e a do público também). Mas, ainda assim, foi muito interessante.
Ao final, sorteio de brindes. Depois, fila para entregar os rádios, pegar os certificados e deixar o local. Mais um pouco de "calor humano".
Fiz essa descrição detalhada não para destruir a imagem do evento, mas, para demonstrar que houve problemas graves e que nem todos se devem ao serviço prestado pelos técnicos de áudio (por mais que a liga de blogueiros amigos insista em colocar panos quentes na situação). A postura da Imasters de não negar que os inconvenientes aconteceram e mostrar que estavam empenhados em resolver, foi bem acertada.
Ouvi algumas pessoas dizerem que "para inovar é preciso errar etc", mas, coincidentemente, eram as mesmas pessoas que criticavam o NBC08. O que nos faz lembrar daquela velha máxima: "que
não atire pedra quem tenha o telhado de vidro".
Merda acontece. Todo mundo sabe. Principalmente, quando se tenta inovar. É claro que uma forma diferenciada agrega valor ao evento. Mas,
não se pode deixar que "os erros de uma proposta inovadora" prejudique o principal: o conteúdo. No ano passado, as palestras foram apresentadas de modo "tradicional", divididas em dois dias. Não houve falhas e todos saíram muito satisfeitos. Nessa edição, quase que o Intercon joga por água abaixo a boa imagem do primeiro ano (já que houve tantas falhas de terceiros). É preciso equilibrar os riscos e às vezes, aceitar que
o mais simples pode não trazer fama, mas pode ser o que trará o melhor resultado.Mesmo com os inconvenientes, o Intercon 08 foi uma experiência muito interessante e espero que no ano que vem seja melhor. Mais adiante, aprofundaremos nas melhores palestras. Aguarde!
Fotos de Rafael Damasceno.